17 de fev. de 2009

Descobertas - III

Apesar de o sol ainda aquecer bem a todos, o dia já dava sinais de estar acabando. Aquela bela coloração no horizonte, um tom alaranjado que fazia as pessoas mais sensíveis derramarem lagrimas. Afinal, depois de um dia desses e com um por do sol daqueles, o que as pessoas queriam era paz, e era justamente o que elas tinham naquele momento.

Uma pena que não podemos dizer que todos estavam em paz, pois no parque do conjunto Santo Antônio haviam muitas discussões. Pessoas sem entender a razão do acidente cansadas, outros reclamando que não tinham seguro e alguns amigos que resgataram a todos e só queriam saber de resolver aquela situação o quanto antes e voltar pra casa, bater um papo, relaxar.

Paulo observava a testa de Alberto, apesar de ser um simples hematoma, o ferimento latejava, o que incomodava muito a Dexter. Assim que o Gordo tocou na testa do amigo, Alberto sentiu uma paz interna tão intensa, que parecia que naquele local não havia discussão nenhuma, no mundo não haviam mais guerras e as doenças todas não mais existiam. A cura foi uma sensação muito intensa.

Aldo, que acabara de chegar, estava sendo inteirado dos acontecimentos, ninguém entendia nada direito. O garoto nervoso ao lado dos pais, Luis assustado com visões de um velho, Brenno com sua camisa rasgada e Paulo regenerando o ferimento de todos. Quanto a camisa rasgada de Brenno, isso aconteceu quando ele retirava o garoto de dentro do carro, as ferragens do carro fizeram um rasgo tão grande em sua blusa que ficou difícil acreditar que o Rambo não tinha sofrido nenhum arranhão. Outra pessoa que foi surpreendente observar que não tinha um arranhão sequer foi o menino, afinal um acidente daqueles, que fez um ônibus tombar, deveria ter pelo menos feito o garoto morder a língua.

— Então, alguém pode explicar como foi o acidente? — Pedro perguntava aos recuperados.
— Eu só lembro de um barulho agudo, eu não agüentei e perdi o controle do ônibus.
— Ei, é mesmo eu também lembro disso. Parecia uma criança gritando. — Assim que a passageira do ônibus disse isso todos olharam por cima do ombro para o garoto.
— Ta certo pessoal, já ta ficando escuro, a gente já fez tudo o que tinha que fazer, agora se vocês nos dão licença nos estamos indo embora. — Periquito já estava impaciente, tudo o que queria era ir pra vila Santo Antônio mas naquela hora já era tarde. — Até porque vocês ainda tem muito a discutir e façam o favor de chamarem a policia, pra averiguar toda a situação. Vamos nessa galera?
Certo de que todos também estavam cansados, Pedro sugeriu um lanchonete, comer um sanduíche na certa iria ajudar a repor um pouco as energias.

— Pô, ainda bem que a gente foi embora, já fizemos mais do que os bombeiros poderiam fazer e depois ainda ficar lá bancando o detetive! Aff.
— Ainda bem mesmo em Suíço. E aê Aldo, aconteceu algo de estranho com você também? — Perguntou Luana.
— Ah sei lá, mas eu acho que fui eu que parei a chuva. — Logo quando Aldo falou isso Periquito cuspiu a coca que tava tomando, de tão cômico que foi ouvir aquilo.
— Hahahaha, como é que é? Você parou aquela chuva dos infernos?
— Ô Periquito, eu disse eu acho! E também acho isso estranho, assim como acho estranho aparecer um raio de luz na minha casa antes da casa de todo mundo!
Paulo com uma cara pensativa logo completou — Pera aí, mas pensando bem, a gente começou a ver o sol lá para o lado Sul da cidade. O Cabeçudo mora na área Sul, não mora?
— Pior que é mesmo, e se o Brenno não leva nenhum arranhão, a Luana derruba coisas quando abre o olho, por que o Aldo não pode acabar com a chuva? Desculpem a minha ignorância viu galera! — Pedro falou com uma cara de desgosto por si.
— Relax Periquito, ta tudo difícil de acreditar mesmo — Dexter tentou consolar o amigo — Mas pelo visto hoje já não dá de ir lá pra cachoeira do Teotônio, que vocês acham de irmos amanha?
— Po nem vai dá pra mim ó galera, tenho aula. Vou dissecar uns corpos. Hehehehe
— Beleza então Gordo, se não quer ir, não precisa. — Brenno falou já terminando seu bombado, esses sanduíches grandes que você nem sabe mais o que colocar dentro.
— Aí, bora pra onde depois daqui? — Perguntou Periquito.
— Sei lá, acho melhor ir cada um pra casa, não tem nada mais pra fazer hoje mesmo! — Voltou a dizer Brenno — Vamos dormir, descansar um pouco, vê como estará tudo amanhã, aí a gente pode se reunir e decidir se vamos ou não amanhã para o Santo Antônio.
— Beleza, acho uma boa mesmo! — Foi o que quase todos falaram, afinal todos estavam muito cansados, depois de tanto estresse salvando os outros.

Mais tarde todos em suas respectivas casas, o único que não estava contente em fazer nada era Pedro, ele ainda não havia descoberto seus poderes, isto é, se é que ele tinha poderes, e estava realmente inquieto com relação a St. Antônio. Mas, ainda assim foi dormir, indo direto para o maravilhoso mundo dos sonhos, aquele mundo que ele não controla, mas tudo é possível.

Em seu sonho haviam vários amigos, que ele não reconhecia direito, mas muitos deles tinham equipamentos especiais ou mágicos, varas retráteis, arcos e flechas com um cabo que te puxa direto para onde a flecha acertou, tênis que te fazem correr ou pular 10x mais que o melhor dos atletas da olimpíada. E lá estava Pedro, sem poderes, querendo saber fazer algo. Não pulava alto, cansava muito fácil quando ia correr, não tinha nenhum equipamento tecnológico mágico, estava lá no meio de todos os especiais. Ao menos havia uma coisa que ele podia fazer, ordenar os treinamentos, comandar o grupo, trabalhar em favor do grupo utilizando os poderes do grupo. Acordou.

— Uhn — Abriu os olhos cansados sem perceber direito que estava no conforto do seu quarto. — Ah não, cinco e meia da manhã? Tenha paciência, aff, por favor. — E logo levantou-se e seguiu para fora de seu quarto.
Em sua cabeça passavam muitos pensamentos, como o que fazer agora que já não conseguia mais dormir? Aproveitou o momento e comeu um sucrilhos como sempre o faz de manhã, se arrumou, deixou um recado na mesa da sala pegou seu capacete e saiu de casa. No recado dizia para sua mãe: Não se preocupe, volto para o almoço. Beijos, te amo.

Já eram seis horas quando ele saiu do prédio e seguiu para o lugar que ele estava querendo ir desde ontem, averiguar a situação, aproveitava a falta de trânsito para acelerar na moto, e pilotava com muito gosto. O sol nascendo logo atrás dele aquecia seu espírito de aventureiro. Nesse dia já haviam algumas nuvens no céu, mas ainda podia dizer que o dia estava tão bonito quanto o final de tarde de ontem.